Quando somos crianças, o quadro que vamos criando de nós mesmos é determinado pelo que ouvimos a nosso respeito: "Que menina linda!" ou "Ele é muito tímido...". A cultura do lar é a fundação de nossa auto-imagem. Os comentários de nossos pais e amigos sobre nós compõem os primeiros rótulos que nos damos e ajudam a formar a base do nosso autoconceito e comportamento.
Como resultado, cada um de nós tem um comitê interno de vozes. Sempre que queremos tentar alguma coisa nova ou difícil, nos recordamos, de um modo subliminar, do legado de opiniões: "Não faça isso, você pode se machucar", "Eu não tentaria nada tão ambicioso", assim por diante. Afirmações tão simples como essas modelam as expectativas que temos a nosso respeito e podem nos fazer temer as consequências de uma ação.
Nós não só ouvimos a tais vozes, como também as enriquecemos. Criamos mitos sobre nós que explicam nosso comportamento. Um comentário dos pais como "Ele é muito tímido" pode se transformar em "Meus pais favorecem meu irmão e me negligenciam, daí sempre fui tímido". Ou "Ela acha muito difícil fazer amigos" torna-se "Eu não consigo criar relacionamentos porque meus pais sempre brigaram". Usamos nossas mitologias para angariar simpatia e afeição, como justificativas para não optarmos por projetos que nos intimidam e para explicar nossas falhas. Mas nossa antologia de desculpas místicas só serve para perpetuar a descrença que temos em nós mesmos.
Ser totalmente honestos conosco, evitando a tentação de criarmos mitologias é difícil, porém é o único caminho para o auto-entendimento. O autoconhecimento repousa bem no fundo de nós, no nosso "centro". A meditação é um meio de chegarmos lá, tranquilizando a mente e permitindo que nos concentremos em nossas necessidades interiores e nos pensamentos originais. Os exercícios de visualização, tais como o que se segue, também ajudam a mente a se libertar da ilusão e encorajam insights claros com relação a nossos aspectos pessoais positivos.
Uma viagem ao centro do eu interior
O entendimento pessoal reside muito abaixo da superfície do eu interior, a uma grande distância dos clamores dos rótulos e das mitologias pessoais. Podemos denominar esse local de nosso "centro", a verdadeira essência do que somos. Esta visualização o ajudará a encontrar seu próprio local de verdade.
1. Sente-se confortavelmente num quarto silencioso. Feche os olhos e respire fundo por alguns instantes. Concentre-se em aquietar a mente.
2. Imagine-se flutuando num oceano aconchegante. A luz do sol cai em seus ombros. Você se deixa levar para lá e para cá, sem esforço.
3. Agora, você está nadando suavemente abaixo da superfície, sentindo-se cada vez mais calmo pela delicadeza da água. Mais abaixo, você vê destroços de uma caravela. Ela é a concha externa da sua psique.
4. Assim que se aproxima, nota que o madeiramento do navio apodreceu. Você entra por uma abertura dele. A água fica cada vez mais clara e brilhante à medida que você penetra na caravela.
5. No centro do navio, há um baú de objetos preciosos, intacto. Cada um deles é um aspecto do seu verdadeiro eu interior. Fique algum tempo redescobrindo-se. Pegue cada objeto e reflita sobre seu significado. Uma moeda pode representar sua honestidade, um cálice sua generosidade. Suba à superfície, sentindo-se relaxado pelo conhecimento do seu valor.
Texto extraído do livro "Aprenda a relaxar" de Mike George