A essência da natureza humana

11 de junho de 2012



Algumas pessoas creem que "não se pode mudar a natureza do homem" e, portanto, a ideia de evolução da consciência humana nada mais representa do que um idealismo injustificado. Entretanto, o que é a "natureza" humana? O dicionário define natureza como o "caráter inerente ou a constituição básica de uma pessoa ou coisa _ sua essência". Este caráter inerente ou essência é passível de mudança?
Podemos obter um vislumbre da resposta a essa questão fundamental nos fazendo uma pergunta análoga: o caráter inerente a uma semente muda quando esta se transforma numa árvore? Absolutamente não. O potencial para se transformar em árvore esteve presente na semente. Quando esta cresce, tornando-se um árvore, esse processo corresponde a uma mudança apenas na proporção em que o potencial da semente, sempre inerente à sua natureza original, é realizado. De forma semelhante, a natureza humana não muda; contudo, assim como a semente, com seu potencial para se transformar em árvore, a natureza humana não é algo estático, mas um espectro de potenciais. Os seres humanos podem passar de uma condição primitiva a uma condição evoluída, sem que esse desenvolvimento represente uma mudança em sua natureza humana básica.
Existe, contudo, uma diferença crucial entre as formas pelas quais uma árvore e uma pessoa realizam seu potencial inato. Para que a semente chegue à sua expressão mais plena, ela precisará apenas de um solo fértil; o ciclo orgânico de crescimento irá se processar automaticamente. Todavia, os seres humanos não se desenvolvem de maneira igualmente automática. Para que nós, humanos, atualizemos nossos potenciais, deverá ocorrer, num dado momento, uma transição da consciência auto-reflexiva (e além), o que fará com que o amadurecimento possa prosseguir.
Nossa cultura oferece o solo _ úmido e fértil, ou seco e estéril _ dentro do qual crescemos. Contudo, a responsabilidade última pelo crescimento, independentemente do ambiente cultural, permanece com o indivíduo. De modo geral, a natureza humana não é uma condição estática, mas um espectro de potenciais em desenvolvimento. Podemos caminhar ao longo desse espectro sem mudar nossa natureza humana básica. Nosso progresso é vividamente ilustrado pelo fato de que a humanidade passou de uma condição nômade primitiva para os limites de uma civilização global, durante um período que corresponde a nada mais do que um instante geológico. Apesar do grau e da velocidade de nossa evolução, em termos de cultura e consciência, estamos longe de um desenvolvimento completo. Creio que ainda estamos na adolescência de nossa espécie e não começamos a imaginar, coletivamente, a direção na qual nossa jornada poderia nos conduzir no futuro.
Através da história, poucas pessoas tiveram oportunidade de desenvolver, conscientemente, seus potenciais interiores, uma vez que durante grande parte de sua jornada evolutiva a humanidade esteve preocupada com a luta pela sobrevivência. A era atual de relativa abundância _ particularmente nos países industrializados _ contrasta nitidamente com a adversidade e a pobreza material do passado. Pela simplicidade, justiça e compaixão poderemos nos libertar de nossos apegos e desenvolver nossos potenciais, em cooperação com outros membros da família humana. A Revolução Industrial pode ser considerada como uma importante conquista, capaz de nos fornecer a base material para a evolução universal da consciência individual e sociocultural.
Os efeitos cumulativos do desenvolvimento, ainda que num grau modesto, da capacidade de percepção auto-reflexiva podem resultar, segundo minha estimativa, num aumento muito grande da eficácia de um comportamento auto-regulador, consciente e atento às necessidades de um mundo maior. As ações de um número incontável de pessoas emergiriam de uma base mais profunda de consciência compartilhada; isto, por sua vez, tenderia a produzir um padrão amplo de comportamento coerente e harmonioso. A consciência auto-reflexiva passaria, então, de um estado de extravagancia espiritual, acessível a poucas pessoas, dentro de um ambiente social mais rudimentar e fragmentário, para uma necessidade social geral, num ambiente social altamente complexo e abrangente. Assim como a capacidade intelectual teve de ser aperfeiçoada por culturas inteiras, no sentido de acompanhar o processo da Revolução Industrial, da mesma forma, penso, agora devemos começar a cultivar a "faculdade do conhecimento", ou consciência, se quisermos contribuir para o surgimento de uma civilização revitalizada. Grande parte do desafio contemporâneo confrontado pela civilização refere-se ao reconhecimento, seguido pelo desenvolvimento consciente desses potenciais vitalmente importantes.


Texto extraído do livro "Simplicidade voluntária" de Duane Elgin

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